domingo, 18 de dezembro de 2011

A ilusão,a doutrina de negação da vida,o ópio do povo -Parte2

  Como vimos no post passado,(http://mikolaandia.blogspot.com/2011/12/ilusaoa-doutrina-de-negacao-da-vidao.html) Freud em seu livro "O Futuro de Uma Ilusão" disserta sobre a civilização,o futuro e a origem da  religiosidade que se dá a partir de uma tentativa de defesa contra o desamparo ,sendo por ele comparada a um complexo paterno.Com o passar do tempo,essa forma de religiosidade foi "evoluindo" (se é que podemos dizer assim),inicialmente as divindades eram representadas por animais,posteriormente eram representadas por várias divindades,cada uma personificava algo da natureza como podemos observar nos deuses gregos por exemplo,mas alguns historiadores afirmam que a primeira manifestação de personificação em uma divindade principal seria na figura feminina,com certeza esse tipo de manifestação ocorreu,mas não se sabe afirmar exatamente a ordem.E assim as coisas foram caminhando até chegar ao Zoroastrismo que é considerada a primeira manifestação monoteísta ética da história e que abriu as portas para uma nova forma de enxergar a divindade,como algo único,um só senhor de tudo o que existe,monopolizando e atraindo mais fortemente os fiéis com sua onipotência e evitando assim controvérsias acerca dos diversos deuses.O Zoroastrismo influenciou bastante o islamismo,o judaísmo e a religião que domina o mundo ocidental e que foi o modelo religioso focado pelos teóricos que apresento nesses posts,o cristianismo.Mas a "evolução" das religiões ainda não param por aí,estão desenvolvendo características e explicações cada vez mais sofisticadas para tentar se firmar em frente as questões,dúvidas e explicações demandadas pelo avanço tecnológico e científico.
  As explicações históricas acerca da divindade como algo criado pelo homem,podem soar a primeira vista como algo estranho,mas para compreender melhor é importante ressaltar que o que nos faz achar estranho,é porque todas as informações a respeito das divindades e das religiões,nos são passadas em forma de revelação divina,quando nascemos já encontramos essas informações prontas lá há gerações e nos são passadas desde cedo,assim como as idéias do que é certo e do que é errado,e acabamos as assumindo de uma forma ou de outra.Nietzsche fala que o homem cria diversas coisas como a moralidade (certo e errado),a idéia de deus,os conceitos...e depois "esquece" que foi ele que criou,e os assume como uma verdade.
  Pelo que pode-se perceber,o teísmo esteve sempre presente nas diversas culturas,e podemos afirmar a sua importância e sucesso em transmitir sentimentos de amparo e segurança para a humanidade.São prezadas como o nosso bem mais precioso,mas...enquanto ao seu valor real? 
  Bem,assim como nos é dito no livro,uma constatação científica,matemática por exemplo,é provada e pode ser atestada e repetida por qualquer um que tenha as condições e conhecimentos necessários.Aprendemos que 2+2=4,se pegarmos duas bolas e juntarmos com outras duas bolas,teremos quatro bolas.O conhecimento científico,pode e deve ser contestado sempre que não suprir a demanda da questão que supõe resolucionar ou mostrar-se incorreto,porém,ele tem valor real,é provado e pode ser atestado,é nós dado sempre a fonte e quando questionamos não nos pedem pra aceitar,nos informam como podemos atestar.
Mas quando nos perguntamos a respeito da veracidade das afirmações religiosas ou a acerca da divindade,encontramos 3 respostas ,visto que não é possível provar o que é dito.
A primeira é de que devemos acreditar porque nossos ancestrais acreditavam,o que é totalmente duvidoso visto que nossos ancestrais eram bem mais ignorantes que nós e acreditavam em coisas totalmente questionáveis como que a terra era quadrada e coisas do tipo,a segunda resposta é de que a religião traz provas como a bíblia por exemplo,o que também é altamente questionável visto que o que eles chamam de provas não são nem provadas e também se encontram em discussão,além de estarem cheias de contradições e falsificações,a terceira resposta é a de que não se deve questionar sua autenticidade,ora,isso já a coloca em posição extremamente suspeita,demonstrando a insegurança dos religiosos,pois se estivem seguros colocariam a prova a quem quer que seja.Freud afirma que "esse estado das coisas é em sí próprio um problema psicológico",mesmo com essas a ausência de explicações e essas justificativas que mal se encaixam a humanidade ainda insiste em acreditar em algo que não se sustenta.
Em resposta a essas questões sem resposta,encontramos duas justificativas : 
A primeira é a "credo quia absurdum",ou seja,creio porque é absurdo,que sustenta que a doutrina religiosa está acima da razão,"sua verdade deve ser sentida interiormente,e não,compreendida".
"Então devemos aceitar todos os absurdos como verdades acima da razão? se não,porque este em particular?"E se apenas um grupo pequena tem essa experiencia interna,isso deve valer como obrigação e justificativa para os outros que não sentem?
A segunda justificativa é a admissão de que as afirmações religiosas são realmente absurdas,mas devemos nos comportar "como se" nela acreditássemos,devido a sua importância e valor para a sobrevivência e para a moralidade,afinal " Se deus não existe e a alma é mortal,tudo é permitido " (Schopenhauer)
Esta segunda tentativa de justificar pode ser melhor explicada por Nietzsche,então prefiro deixar a crítica a ela para depois.
  Outro problema psicológico comentado por Freud,foi a respeito da enorme influência que a religião teve e tem sobre o homem desde o seu surgimento,influência que se manifesta desde acreditar em algo sem explicações precisas e satisfatórias,até queimar pessoas vivas na fogueira.
A respeito dessa gigantesca influência e do porque dela ser tão forte,Freud encontrou a resposta justamente na palavra que está no título de seu livro e que é como ele acredita se encaixar perfeitamente á religião: Ilusão.Calma,pra entendermos melhor,é necessário explicar o porque dele ter atribuído justamente a palavra ilusão,e ele explica isso perfeitamente.
  "Quando digo que todas essas coisas são ilusões,devo definir o significado da palavra.
Uma ilusão não é a mesma coisa que um erro;tampouco é necessariamente um erro.A crença de Aristóteles de que os insetos se desenvolviam do esterco era um erro.[...]Seria incorreto chamar esses erros de ilusões.
Por outro lado,foi ilusão de Colombo acreditar que descobriu um novo caminho marítimo para as Índias.O papel desempenhado por seu desejo neste erro é bastante claro.[...]O que caracteriza as ilusões é o fato de derivarem de desejos humanos.[...]As ilusões não precisam ser necessariamente falsas,ou seja,irrealizáveis ou em contradição com a realidade ."

"Podemos,portanto,chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui fator proeminente em sua motivação e,assim procedendo,desprezamos suas relações com a realidade,tal como a própria ilusão não dá valor á verificação."

A partir desta definição então,podemos compreender e responder a pergunta feita anteriormente sobre o poder de influência da religião e da crença em uma divindade.Ela é tão forte porque a força de uma ilusão é equivalente a força da desejo,e como vimos, diante do desamparo terrificante ante as forças superiores da natureza,amparo,proteção,um pai zeloso,eterno e onipotente se tornou a melhor forma (talvez o único recurso que o homem primitivo tivesse,visto que o homem tem a tendência de exteriorizar e personificar seus temores para poder controla-los) de amenizar o temor e suprir suas demandas psicológicas.

Acho que por hoje é só,no próximo post eu prometo que termino Freud rsrs
Beijos e até lá :*

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A ilusão,a doutrina de negação da vida,o ópio do povo -Parte1

  Bom gente,vou iniciar aqui,uma série de posts sobre como Freud,Marx e Nietzsche percebem a religião.
  Antes de mais nada,acho interessante que possamos separar em nossas cabeças 2 coisas:

1.Separar a concepção de uma divindade (Deus) de instituição religiosa.
2.Separar as duas concepções de divindade :
-Deus como uma entidade personificada como é retratado por exemplo no cristianismo e no hinduísmo
-Deus como uma energia

Bem,os três teóricos de maneira geral compartilham de idéias bastante parecidas,Freud em seu livro "O Futuro de Uma Ilusão" discursa sobre a civilização e o que seria sua maior ilusão,a religião.Mas para entendermos melhor o porque de Freud ter escolhido a palavra "ilusão" para se remeter a religião dentre outras coisas,primeiramente é preciso fazer uma viagem ao passado que o próprio livro nos instiga.
  Antes de usar cotonetes e talheres,a espécie humana vivia em um completo estado de natureza até que desses seus primeiros passos em direção a cultura,deixando de ser apenas natural,cíclica e limitada para construir e transmitir uma cultura,o que nos torna animais simbólicos (capacidade de representar) permitindo a aquisição e desenvolvimento de uma linguagem,assim como a consciência do outro,da morte e de nós mesmos,possibilitando ao homem se mover no tempo e no espaço.
Com esse grande passo, a humanidade iniciou o processo civilizador,abandonando o estado total de natureza e renunciando a barbárie para se enquadrar aos limites de uma vida em sociedade.
Rousseau fala a respeito em "Do Contrato Social",onde podemos dizer (bem resumidamente) que tanto a civilização quanto o homem ao nascer,"assinam" uma espécie de contrato social onde deve-se renunciar a barbárie e os instintos de uma vida natural,livre e primitiva,para obter os benefícios de uma sociedade com todos os seus limites e repressões,mas que os protegia de uma natureza que ao mesmo tempo que libertava,os eliminava pelos próprios meios,pois o outro também teria os mesmos direitos que eu de matar e oprimir a quem quiser,inclusive a mim.Foi justamente devido a esses perigos naturais que nos ameaçam que demos a luz a civilização,"Pois a principal missão da civilização,sua razão de ser real,é nos defender contra a natureza." (Freud).
  Mesmo assim a sensação de desamparo continua,a natureza se ergue contra nós e sua força é revelada por meio de catástrofes naturais e uma série de eventos -Destino,para os homens- e de enigmas cruéis como a morte,causando grave prejuízo ao narcisismo natural do homem,nos lembrando do desamparo que acreditávamos ter sido desviado no processo civilizador.Mas se de repente transformamos todo esse pavor em algo proposital direcionado de alguma forma para o nosso bem,a situação muda completamente,e ao invés de fragilidade e desamparo,nos sentimos confortados por algo superior com objetivos igualmente superiores.
"Contudo,se nos elementos se enfurecerem paixões da mesma forma que em nossas próprias almas,se a morte não for algo espontâneo,mas o ato violento de uma vontade maligna,se tudo na natureza forem seres a nossa volta,do mesmo tipo que conhecemos em nossa própria sociedade,então podemos respirar livremente,sentir-nos em casa no sobrenatural e lidar com nossa insensata ansiedade através de meios psíquicos." .

E é assim que se defende o homem contra os poderes da natureza,do destino e de tudo o mais que lhe ameaça,por meio das idéias religiosas.
Freud retrata a relação da civilização com os deuses que tem como consequência a religião,por meio de uma espécie de complexo paterno,

"O homem transforma as forças da natureza não simplesmente em pessoas com quem pode associar-se como seus iguais mas lhe concede o caráter de um pai.Transforma-a em deuses [...]Quando o indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer uma criança para sempre,que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos poderes superiores,empresta a esses poderes as características pertencentes a figura do pai;cria para si próprio os deuses a quem teme,a quem procura propiciar e a quem,não obstante,confia sua proteção.Assim,seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua necessidade de proteção contra as consequências de sua debilidade humana.É defesa contra o desamparo infantil que empresta suas feições características à reação do adulto ao desamparo que ele tem de reconhecer - reação que é,exatamente,a formação da religião."

"Estes [deuses] mantém sua tríplice missão : exorcizar os terrores da natureza ,reconciliar o homem com as crueldades do destino ,particularmente a que lhe é demonstrada na morte,e compensá-los pelos sofrimentos e privações que uma vida civilizada em comum lhes impôs."


  Acho que por hoje é só,no próximo post eu continuo a partir dos motivos encontrados no livro sobre os porquês de acreditar em em uma divindade e/ou seguir uma doutrina religiosa.
Beijos :*

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"Eu vos ensino o Super Homem.


O homem é algo que deve ser superado.
O que fizeste para supera-lo?
Todos os seres até agora,criaram algo acima de si mesmos;e vós quereis ser a baixa-mar dessa grande maré cheia e retrogradar ao animal,em vez de superar o homem?
Que é o macaco para o homem?Um motivo de riso ou de dolorosa vergonha.E é justamente isso o que homem deverá ser para o Super Homem : um motivo de riso ou de dolorosa vergonha.
Percorreste o caminho que vai do verme ao homem,mas ainda tendes muito do verme .Fostes macaco um tempo e também agora,o homem é ainda mais macaco que qualquer macaco. [...]
O homem é uma corda estendida entre o homem e o Super Homem - uma corda sobre um abismo.
É o perigo de transpo-lo,o perigo de estar a caminho,o perigo de olhar pra traz,o perigo de tremer e parar.
O que há de grande no homem é ser ponte e não meta: o que pode amar-se no homem é ser uma transição e um ocaso. [...]
Homem era ele e nada mais que um pobre pedaço de homem e do meu eu: surgia em mim da minha própria cinza em brasa,em verdade,esse fantasma!Não vinha a mim do além!
Que aconteceu ,meus irmãos? Sofredor,superei a mim mesmo,levei a minha cinza para o monte e inventei para mim uma chama mais clara.
E eis que então o fantasma desapareceu!

Já falastes assim?Já gritastes assim?Ah se eu vos tivesse ouvido,algum dia,gritar assim! "
--


Friedrich Nietzsche -Assim Falou Zaratrusta
"Atrair muitos para fora do rebanho,foi para isso que eu vim "

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Luta antimanicomial =D


Quando se fala em pacientes mentais e comportamento desajustado,vem em mente,pessoas em estado de surto,confusas,com alucinações e perda da capacidade psicológica e motora,tornando praticamente impossível uma vida social "normal".
Nos séculos passados não havia uma política de controle de saúde mental.A loucura era uma questão privada,e que estava sob responsabilidade da família do portador,que era alvo de zombaria nas ruas,e que interferia diretamente na estrutura familiar causando um grande sofrimento para seus familiares.
Com o passar dos anos,começou então,uma luta para implantação de um serviço de saúde mental no Brasil,dando origem a instituições como hospícios e casas de saúde (um sistema fechado para tratamento de pessoas com problemas mentais).Com o tempo,essas instituições foram causando controvérsias dentro da medicina,contestando a sua eficácia e qualidade,dando início a luta antimanicomial que decide pôr fim ao sistema hospitalar fechado de tratamento mental, e dar início abertura para os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),que possue a função de tratar os pacientes mentais em estado mais grave,diferenciando mesmo assim do antigo sistema pois tem como objetivo maior a reinserção social do indivíduo,tratando não apenas do estado de surto como também com terapias na tentativa de evitar possíveis surtos no futuro,a fim de fortalecer os laços familiares e comunitários,proporcionando ao paciente mental uma vida social o mais "normal" possível.
O tratamento nos hospícios, é muitas vezes agressivo e é praticamente a base de drogas,tendo como fim,tratar da doença e de uma forma mais grosseira podemos dizer que sua função seria tratar e "aguentar" o paciente mental,quando a família não mais aguenta,sem se preocupar em reinserir o sujeito na sociedade para que possa levar uma vida normal.Diferentemente disso,os CAPS são uma instituição aberta,humanizada e comunitária,que possui três tipos de atendimento,o intensivo para pacientes em estado grave que necessitam de acompanhamento diário,o sei intensivo para pacientes que estão em estado menos que o intensivo e o não intensivo para pacientes portadores que não estão em surto mas que é necessário um acompanhamento para evitar possíveis surtos e "manter a sua sanidade".Lá é traçado um processo terapeutico que inclui oficinas e atividades esportivas com participação da família que é muito importante no processo de "cura" do individuo.
Enfim,em comparações ao antigo sistema x]
Já são 20 anos de luta antimanicomial,e os hospitais ainda não se acabaram por completo =/
mas estamos no caminho,cada vez mais construindo mais CAPS e interditando os hospitais.
Uma luta que vale a penaa,que todos deveriam apoiar e se importar,pois os pacientes mentais são pessoas como eu e você e nunca se sabe quando uma pessoa pode ter alguma doença mental,pois todos estamos sujeitos a doenças psicológicas,pois se importar com as pessoas e o mundo a nossa volta é nossa obrigaçãoo como ser humanoo.

"Conheças todas as teorias, domine todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana."

=**

sábado, 29 de maio de 2010

Mecanismos de defesa-A realidade como ela NÃO é .

Todo animal,irracional ou racional,se defende daquilo que acha que pode lhe prejudicar de alguma maneira.Quando estamos com medo nos retraímos ou avançamos,claro que isso varia de pessoa pra pessoa e depende da situação,mas todos diante de algo que acham que pode lhes machucar de alguma maneira,se protegem,se defendem.
Bem,com a nossa mente acontece o mesmo.Segundo Freud,quando ela percebe que algo pode nos prejudicar mentalmente (alguma emoção,atitude ,reação...),ela ativa os seus mecanismos de defesa,que seriam inconscientes e inevitáveis,e atuam sem que percebamos diretamente,sendo assim um processo natural do ser humano.
""Os,mecanismos de defesa são estratégias (inconscientes) de esquiva ao enfrentamento de problemas,elas capacitam as pessoas a falsificar e distorcer o que de outra forma seria doloroso.É uma maneira de maquiar a realidade para evitar sofrimento,impedindo que esses problemas cheguem ao consciente.Todas elas envolvem a auto-dissimulação e apresentam um risco: podem impedir a busca e a avaliação de outras soluções." Linda L.Daviddof
Eles tentam amenizar qualquer situação psicologica que pode colocar em risco a integridade do ego,pois seria mais dificil pro individuo lidar com situações que por algum motivo considere ameaçadoras.Eles tem como base a angústia e a ansiedade,quanto maior o nível desses dois mais forte será a ação desses mecanismos.
Como eu já disse,eles ocorrem sem que nos percebamos diretamente,como se fosse espontâneos,como Freud dizia mesmo aquilo que parece espontâneo,tem uma causa,um sentido,
"Há uma causa para cada pensamento,para cada memória revivida,sentimento ou ação.",pois cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precedem.
Essas causas geram sempre alguma reação do organismo (como a ansiedade por exemplo),mas existem algumas fatores que podemos considerar aqui como principais responsáveis por causar uma angústia psicológica.A perda ou privação de algo desejado (uma criança que não convive com o pai ,ou a perda de um parente...).A perda de amor,rejeição,fracasso ou a desaprovação de alguém que lhe importa.Perda de identidade,é o medo da perda de prestigio,de ser ridicularizado em público.Perda de auto-estima,por exemplo a desaprovação do superego por alguma atitude que resulte em culpa ou ódio em relação a si mesmo.
Todos esses fatores geram problemas internos,e existem duas formas de resolver,enfrentando o problema diretamente ou negando e deformando a realidade através dos mecanismos de defesa,que funcionam também como formas de adaptação.
Nenhuma pessoa utiliza todos esses mecanismos,mas é feita uma seleção que vai sempre se repetindo como reação quando necessário.
A filha de Freud,Anna Freud,distinguiu e conceituou vários tipos de mecanismos de defesa dentre os principais são:
  • A Repressão: Ocorre quando as pessoas excluem da consciencia motivos,idéias,lembranças que podem gerar ansiedade.Eles permanecem no subconsciente e não se manifestam para não causar ansiedade e angustia no individuo,mas mesmo assim,influe no comportamento.Além de que durante o processo de repressão o individuo tende a ter um otimismo não compatível com a realidade,vendo apenas o lado bom de coisas desagradáveis para não se machucar.Lembrando que esse processo é inconsciente e acontece quase que diariamente.Como exemplo temos uma pessoa em que viu uma cena de assassinato mas como está em estado de choque não consegue se lembrar do ocorrido.
  • A Negação:Quando ocorre algo que nos incomoda profundamente, há a tendencia a não aceitar esse ocorrido, ou lembrá-lo de modo incorreto..Então negam a realidade,ignoram ou recusam -se a reconhecer a existência desses aspectos desagradáveis de suas experiencias,apesar de estarem plenamente cientes das mesmas.Esse método sempre envolve a autodissimulação,na qual o próprio indivíduo se engana,como por exemplo,uma pessoa portadora do vírus HIV que ao receber o resultado diz ao médico que o exame não é dele,que ele se sente muito bem portanto não está doente.
  • A Fantasia:É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, quer satisfazer uma necessidade ou desejo, que talvez não pode ser, na vida real.satisfeito.O sujeito imagina de orgias e coisas contrarias a sua realidade até por exemplo as férias tão desejadas,um encontro amoroso ou possíves soluções para um problema,fazendo com que as necessidades fantasiadas sejam de um certo modo supridas.
  • A Racionalização::Envolve a invenção de razões plausíveis e aceitáveis para determinadas situações,atos,pensamentos ou impulsos quando alguém deseja esconder de si próprio as verdadeiras explicações,é um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia, um sentimento,cujos motivos verdadeiros causariam angustia nele e fariam sua mente entrar em conflito por não irem de acordo com sua moral e realidade.Podemos dar como exemplo quando o sujeito dá desculpas do tipo "Eu teria passado naquele exame se o professor não tivesse feito perguntas tão idiotas" que possibilita ao estudante evitar o seu desespero ou capacidade limitada.
  • A Formação reativa:É quando as pessoas escondem de si próprias algum motivo,emoção,atitude,traço da personalidade ou qualquer outra coisa parecida,expressando o oposto.Como por exemplo o ódio disfarçado de exagerada exibição de amor,o forte impulso sexual em excessivo recato,a hostilidade em gentileza.É como se a mente não quisesse admitir determinado fato e para isso demonstra o oposto,lembrando que o individuo não está representando algo que ele não é,pois esse é um fenômeno inconsciente.
  • A Projeção:Manifesta-se quando o Ego não aceita reconhecer um impulso inaceitável do Id e o atribui a outra pessoa.No sentido propriamente psicanalítico, operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro- pessoa ou coisa- qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos”que ele desconhece ou recusa nele.As pessoas que se utilizam da projeção são muito mais rápidas em observar defeitos nos outros que muitas vezes elas mesmas possuem (e as vezes até em maior grau) mas não o "enxergam" em si mesmas.Como exemplo temos,uma mulher que critica uma conhecida por ser muito gastadeira enquanto ela mesma o é.
  • A Identificação:É um processo psiquico no qual o sujeito assimila uma característica ou comportamento de outra pessoa e imita essa característica,se identificando.Nós também somos compostos por várias identificações ao longo da vida.Podemos exemplificar através de um menino que vê outro ser generoso,admira a atitude e a repete incorporando-a ao seu comportamento.
Aqui vimos alguns dos principais mecanismos de defesa psicologicos segundo a psicanálise.
Quando eles não fnncionam,o sujeito fica ansioso e angustiado,podendo causar até mesmo um surto mental.Porém a manifestação mais ocorrente quando eles não funcionam além de ansiedade é claro,são os conflitos psicológicos, surgem quando dois ou mais objetivos (necessidades,ações,emoções,pensamentos) competem um com o outro,pressionando o sujeito em diferentes direções,e como a escolha por uma opção acarreta no abandono da outra isso faz com tais conflitos sejam frustrantes e geradores de ansiedade.Se esses conflitos forem temporários eles são chamados de transtornos,se forem duradouros são chamados de cargas crônicas.

domingo, 16 de maio de 2010

O amor do pequeno principe *--*


E eis que acabamos com a análise o pequeno príncipe x]
Mas Exupery ainda nos acompanhará nesse post,pois como muitos ficaram curiosos sobre o segundo livro do autor envolvendo o nosso principezinho,resolvi falar um pouquinho sobre ele pra vocês.
Poucos já ouviram falar sobre esse livro,e eu o tenho aquii HAHA =p auhsahs
Bem...eh que uns dois anos após a publicação do "pequeno principe",Exupery(que era aviador) resolveu procurar o campo de ação militar da sua esquadrilha.Um dia,quando ele estava num trem ele se apaixonou a primeira vista por uma moça casada e eles se relacionaram durante o ultimo ano de sua vida.Foram encontradas algumas cartas e desenhos que ele mandava pra ela assinando como o pequeno principe.As cartas oficiais estão hoje num museu de cartas e manuscritos em Paris e foram publicadas no livro "O amor do pequeno principe-cartas a uma desconhecida.".
São cartas pequenas porém lindaas *-* e as aquarelas do autor expressam de maneira sutil mas profunda os sentimentos dele.
Exupery se referia a ela chamando-a de menininha,que depois de um tempo o ignora e nem responde suas cartas fazendo com que a tristeza invada seu coração.
O livro é pequeno mas é profundo,infelizmente não o encontrei pra baixar na net =/
Mas se alguem quiser pode me pedir que eu o digito e mando (como eu disse é um livro pequeno).
Mas pra deixar na vontade,eu vou colocar aqui as minhas partes preferidas *--*
xD

"Descubro com melancolia que meu egoísmo não é tão grande assim,pois dei ao outro o poder de me magoar.
Menininha,foi com carinho que lhe dei esse poder e é com melancolia que a vejo usa-lo.

Os contos de fadas são assim,uma manhã a gente acorda e diz:
"Era só um conto de fadas..."E a gente sorri de si mesma.Mas na verdade não estamos sorrindo.Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida.

A espera,os passos leves.Depois as horas que correm frescas como um riacho em meio a relva sobre seixos brancos.Os sorrisos as palavras sem imoportância que são tão importantes.Escutamos a música do coração:é linda,linda pra quem sabe ouvir...
Queremos muitas coisas é claro,Queremos colher todos os frutos e todas as flores.Queremos sentir o cheiro de todos os campos.Queremos brincar.Será mesmo brincar?
Nunca sabemos onde começa a brincadeira nem onde ela acaba,mas sabemos que somos carinhosos e ficamos felizes.
Não gosto da estação interior que substituiu a minha primavera:uma mistura de decepção,de secura e de rancor.Mergulho num tempo vazio onde não tenho mais motivo pra sonhar.

O mais triste num sofrimento é se perguntar :"vale a pena?"...
Vale a pena todo esse sofrimento por quem nem mesmo pensa em avisar?
certamente que não.Então nem sofrimento se tem mais, e isto é ainda mais triste. [...]
Não haverá mais carta,nem telefonema,nem sinal.Não fui muito prudente,e não pensei que pouco a pouco,com isso arricava um pouco de sofrimento.Mas eis que me feri na roseira ao colher uma rosa.
A roseira dirá:"Que importancia eu tinha pra você?" Chupo meu dedo que sangra um pouquinho e respondo "Nenhuma roseira,nenhuma.Nada tem importancia na vida.Nem mesmo a vida.Adeus roseira." [...]

Não quero mais brigar com você.Azar o meu se as vezes fico um pouco triste.
Você tem razão em tantas coisas...Sem dúvida eu lhe farei mais mal do que bem.Sem dúvida não,mas talvez.[...]

Claro que a menor primavera enfraqueceria minhas decisões-
Mas azar se não há mais primavera. "

Inté mais =D

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Análise "Le petit prince *-* parte III


Oi gentee =D
demorei mas cheguei AUHSYUIASH
Se bem me lembro,ainda não revemos o fim do livro,e é pra isso que eu estou aqui.
Depois de passar um bom período aqui na terra e reavaliar vários dos seus conceitos,o principezinho resolveu voltar a sua rosaa,e ele reencontra a serpente que tinha conhecido assim que chegou no planeta terra.Bem,geralmente a serpente simboliza traição,e isso deve ser levado em consideração na hora de avaliar o real simbolismo do seu personagem.
A cobra diz ao principe que podia fazer com que ele voltasse ao seu planeta com apenas uma picada e que isso não doeria muito,e assim concordou o principezinho,se despedindo então do nosso autor.
A infeliz hora da partida.
Para mim,as páginas finais são as mais belas e tristes de todo o livro.
É a despedida não apenas do seu novo amigo,como também de todos os seus conceitos e valores antigos,de toda sua mágoa e nostalgia.Agora o nosso menino dos cabelos dourados voltava a sua vida de antes,mas não era mais o mesmo menino.E o seu corpo era pesado demais para ir com ele,por isso resolveu deixar,o que realmente importa era a sua essência,o que ele era de verdade.
Ele se foi,mas as lembranças dele continuam,o que o torna presente.
Se analisarmos bem o livro como um conjunto,podemos até chegar a conclusão de que o nosso principe seria a criança que Exupery foi um dia.
Um reencontro.Percebemos isso em várias partes do livro,como por exemplo o fato do principezinho ir embora assim que o avião é concertado,como se a ligação física tivesse acabado deixando apenas as marcas do que ficou,e também ao observarmos que toda a aprendizagem do principezinho,seus sonhos e medos refletiam o íntimo do autor,reafirmando mais uma vez a possibilidade de serem a mesma pessoa.
Não sabemos ao certo,se o o pequeno morreu com a picada da cobra,ou se ele foi reencontra a rosa e para isso como ele mesmo disse,tinha que abandonar o corpo.Porém a idéia que mais faria sentido,seria a de que com o concerto do avião,a personificação da infância de Exupery tivesse ido embora,deixando apenas as lições e a moral.
Mas afinal,o que realmente nos importa é o aprendizado que o livro nos deixa e a reflexão que ele nos instiga a fazer.
Sobre os personagens,chegamos a uma conclusões bem subjetivas.
Os desenhos de jibóias abertas e fechadas seriam manifestações de desejos e sonhos que foram reprimidos.
Ao falar dos arbustos ruins,baobás,das rosas e do carneiro,podemos entender que as plantas ruins são os nossos maus sentimentos que se não forem arrancados depressa podem crescer e se tornarem baobás,fazendo com que esses maus sentimentos e idéias criem raízes em nós tornando dificil retira-los.Assim como as rosas que além de ser nossos sentimentos bons que devem ser cultivados e regados,são também pessoas que cativamos e que devemos fazer o possivel pra crescerem dentro de nós.
Já sobre o dilema do carneiro que come tanto os arbustos como as flores (mesmo as que tem espinhos) e que o principezinho tem medo de que coma sua rosa,esse carneiro simbolizaria o tempo que devora tanto as coisas ruins como as boas,mesmo que você as proteja com quantos espinhos quiser,o tempo leva tudo,dando efemeridade a todas as coisas,e não se pode amarra-lo com mordaça alguma.
É um obra que nos mostra uma profunda mudanças de valores que revela como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam a solidão.
Acredito que agora quando vocês relerem o livro e até mesmo para aqueles que espero que lerão pela primeira vez,enxerguem tudo de maneira diferente,com os olhos do coração =D
Ahh...eu queria muito falar pra vocês agora sobre o segundo livro de Exupery que fala também sobre a nossa criança majestosa "O amor do pequeno principe-cartas a uma desconhecida",é que um tempo depois de ter escrito o pequeno principe,o nosso autor-aviador se apaixonou por uma mulher casada em um trem com a qual teve um relacionamento secreto de mais ou menos um ano,depois ele não mais a viu e tomou a escrever a ela cartas que nunca foram entregues e resolveram ser publicadas nesse livro,sendo que as cartas originais estão em museu na França.
Mas terá que ficar para a próxima,pois gostaria muito de postar aqui um pouco da triste despedida do principe e do autor =/ É uma das partes mais legais pra mim e gostaria de compartilhar e relembrar com vocês *-*
Ahh...quem quiser baixar todo o livro aki vai o link http://www.4shared.com/document/wbX7UOCl/O_Pequeno_Principe__Ilustrado_.htm


"- Eu também volto hoje para casa...

Depois, com melancolia, ele disse:

- É bem mais longe... Bem mais difícil...

Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava-o nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando verticalmente no abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê-lo...

Seu olhar estava sério, perdido ao longe:

- Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...

Ele sorriu com tristeza.

Esperei muito tempo. Pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco:

- Meu querido, tu tivesse medo...

É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.

- Terei mais medo ainda esta noite...

O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a idéia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.

- Meu bem, eu quero ainda escutar o teu riso...

- Mas ele me disse:

- Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde caí o ano passado...

- Meu bem, não será um sonho mau essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela?

Mas não respondeu a minha pergunta. E disse:

- O que é importante, a gente não vê...

- A gente não vê...

- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.

- Todas as estrelas estão floridas.

- Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?

- Lembro-me...

- Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

Ele riu outra vez.

- Ah! Meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso!

- Pois é ele o meu presente... Será como a água...

- Que queres dizer?

- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, era ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém terás estrelas como ninguém...

- Que queres dizer?

- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir!

E ele riu mais uma vez.

- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego...

- E riu de novo.

- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...

E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou sério:

- Esta noite... Tu sabes... Não venhas.

- Eu não te deixarei.

- Eu parecerei sofrer... Eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...

- Eu não te deixarei.

Mas ele estava ocupado.

- Eu digo isto... Também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto...

- Eu não te deixarei.

Mas uma coisa o tranquilizou:

- Elas não têm veneno, é verdade, para uma segunda mordida...

Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:

- Ah! Estás aqui...

E ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:

- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade...

Eu me calava.

- Mas será uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste...

- Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar esse corpo. É muito pesado.

Eu me calava.

Perdeu um pouco da coragem. Mas fez ainda um esforço:

- Será bonito, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber...

Eu me calava.

- Será tão divertido ! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...

E ele se calou também, porque estava chorando...

- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.

E sentou-se, porque tinha medo.

Disse ainda:

- Tu sabes... Minha flor... Eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua ! Tem quatro espinhos de nada para defendê-la do mundo...

Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:

- Pronto... Acabou-se...

Hesitou ainda um pouco, depois se ergueu. Deu um passo. Eu... Eu não podia mover-me.

Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarzinho como uma árvore tomba. Nem fez sequer barulho, por causa da areia.

E agora, certamente, já se vão seis anos... Jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...

Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...

Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o príncipezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la no carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor...".

Ora eu penso: "Certamente que não! O príncipezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro...". Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.

Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado...". Então os guizos se transformam todos em lágrimas!...

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o príncipezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não a rosa...

Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...

E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância! " fim *-*